As Primeiras Nações

A realidade brasileira dos povos indígenas é de fato um assunto que, infelizmente, está longe dos centros de discussão ou do destaque midiático, mas não deixa de ser uma pauta extremamente importante. Não apenas de se tratar de um grupo de etnias, mas de nossa história intrínseca, nossas origens e raízes, queiramos ou não.
Neste post, abordarei uma realidade minha: as Primeiras Nações.

Os primeiros habitantes da América do Norte, ou da “Ilha da Tartaruga”, como algumas culturas nativas a chamam, chegaram ao continente há milhares de anos, muito antes, portanto, dos europeus. Estão ali há tanto tempo, que várias de suas tradições retratam aquele território como a sua terra de origem. O Canadá, pelo contrário, é uma nação jovem. Embora viesse a preservar até a década de 1930 o status de colônia britânica, ele se tornou uma nação independente em 1867.3 Com a independência, o país herdou obrigações legais firmadas pelos britânicos – é o caso de acordos oficiais assinados entre os povos aborígenes, enquanto nações soberanas, e a Coroa Britânica.

Logo após a sua independência, porém, o Canadá declarou controle sobre povos aborígenes e territórios. O Indian Act (1876), que mesmo com emendas é mantido ainda hoje na lei canadense, foi imposto às Primeiras Nações sem a consulta desses povos. Esse ato foi, e ainda é, uma reação do governo canadense aos tratados herdados da Coroa Britânica. Ele limita a autonomia dos povos aborígenes, o controle que estes têm da terra e os serviços públicos que tais povos usufruem, como educação e saúde.

Temos ainda tem muito trabalho a fazer a fim de se reconciliar com os seus povos nativos. As comunidades pertencentes às Primeiras Nações enfrentam ainda hoje as duras consequências do colonialismo. Do ponto de vista de um grupo demográfico, são mais propensos do que outras a viver em casas superlotadas, a sofrer com insegurança alimentar, com o desemprego, a ter problemas de saúde mental entre os jovens e a possuir níveis mais baixos de confiança no sistema judiciário. Em 2015, os povos indígenas (incluindo Métis e Inuit) foram responsáveis ​​por 25% das vítimas de homicídio, apesar de representarem apenas cerca de 5% da população. Várias  províncias canadenses ainda permitem a exploração de terras indígenas para fim de negócios e a lucrativa extração de recursos naturais, algo contra o qual muitos povos indígenas se opõem.

Embora as crenças e práticas espirituais indígenas possam variar significativamente entre os diferentes grupos e indivíduos das Primeiras Nações, Métis e Inuit, e em diferentes regiões, alguns elementos comuns ficaram evidentes durante nossos compromissos. Por exemplo, muitas pessoas falavam da Espiritualidade Indígena como um “modo de vida” e “forma de conhecer” (ou visão de mundo) que estava centrada em um relacionamento com o Criador, a terra e “todas as nossas relações”. Isso geralmente incluía todos os outros seres e formas de vida, incluindo o que é comumente percebido como objetos inanimados, que geralmente eram vistos como imbuídos de um espírito ou alma. A maioria também via a espiritualidade indígena como inseparável de sua cultura e identidade indígena tradicional.

Performances englobam vários escopos de identidade e cultura, desde representações físicas até ritos e objetos. Nos caso dos Inuits, o quilliq (inuktitut: ᖁᓪᓕᖅ, IPA: [qulːiq]) é um tipo de lâmpada a óleo de baixa intensidade feita de pedra-sabão e um pavio de algodão e musgo ártico alimentado por óleo animal. Era tradicionalmente usado pelos Inuit principalmente como uma ferramenta de sobrevivência para se manter aquecido em casa, secar roupas e cozinhar. Agora, às vezes, é usado como uma ferramenta de ensino ritual e como parte de cerimônias de abertura e encerramento em reuniões, onde se tornou um símbolo sagrado da identidade inuit e da cultura tradicional. Ilustrando a estreita interconexão entre cultura, identidade, espiritualidade e saúde, ouvimos uma observação de Ancião enquanto mantinha a chama de baixo nível acesa: “Sinto-me bem quando uso o qulliq”.

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